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Análise Primária e Secundária

É o processo ordenado pelo qual obteremos informações sobre os problemas de natureza clínica ou traumática da vítima, por meio de entrevi...

É o processo ordenado pelo qual obteremos informações sobre os problemas de natureza clínica ou traumática da vítima, por meio de entrevista e exames físicos, procurando identificar as alterações que a coloquem em risco de morte e oferecendo-lhe os cuidados de Primeiros Socorros de modo a mantê-la estabilizada buscando sempre melhorar seu estado geral. Do ponto de vista do atendimento pré-hospitalar, podemos classificá-la em análise primária e análise secundária.  

Processo ordenado para identificar e corrigir de imediato, problemas que atentem contra a vida, em curto espaço de tempo. Contempla cinco fases que são:
A (airway) - Estabilizar a coluna cervical manualmente, verificar responsividade, liberar as vias aéreas e colocar cânula orofaríngea no caso de inconsciência.
B (breathing) - Constatar a existência, o tipo e a qualidade da respiração, desobstruir as vias aéreas quando necessário, ministrar oxigênio e executar monitoramento com oxímetro de pulso.
C (circulation) - Verificar a existência, regularidade, intensidade e frequência qualitativa do pulso carotídeo. Aplicar Reanimação CárdioPulmonar (RCP) quando o pulso estiver ausente e o Desfibrilador Externo Automático (DEA) quando disponível e indicado. Verificar a perfusão capilar, temperatura, coloração e umidade da pele. Identificar e conter grandes hemorragias.
D (disability) - Verificar a Escala de Coma de Glasgow e fazer exame das pupilas.
E (exposition) - Expor a vítima.

ANÁLISE PRIMÁRIA

A (airway)
Estabilizar a coluna cervical manualmente, verificar responsividade, liberar as vias aéreas e colocar cânula orofaríngea no caso de inconsciência. 
Estabilizar a coluna cervical manualmente:
Devemos ser cautelosos, pois vítimas conscientes costumam se movimentar tão logo percebam a chegada do socorro. Portanto, quando de sua aproximação, procure apoiar a cabeça da vítima o mais breve possível, segurando-a com as mãos espalmadas, de modo a evitar movimentação. Procure acalmá-la solicitando que não se mexa e permaneça estabilizando sua cabeça até a colocação do colar cervical e protetor lateral de cabeça.

Verificar Responsividade
- Fazer por três vezes perguntas curtas e de fácil entendimento (Ei, você está me ouvindo? Ei, você está bem? Ei, fala comigo?) tocando em seu ombro, sem movimentá-la.
- No caso de respostas sonoras, mesmo que incompreendidas, ou por meio de movimentação espontânea, considerar a vítima como consciente.
- Sempre que a vítima tentar se movimentar, solicite que a mesma permaneça imóvel para que seja feita a devida movimentação em bloco para prosseguimento da análise.

Liberação das Vias Aéreas
Quando a vítima puder emitir sons e estiver consciente devemos considerá-la com as vias aéreas liberadas sendo que em caso contrário, devemos executar a abertura de suas vias aéreas executando uma das manobras abaixo:

Manobra de Elevação da Mandíbula: (executada por equipe de resgate em vítima de trauma).
- Posicionar-se atrás da cabeça da vítima;
- Colocar as mãos espalmadas lateralmente a sua cabeça, com os dedos voltados para frente, mantendo-a na posição neutra;
- Posicionar os dedos indicadores e médios das mãos, em ambos os lados da cabeça da vítima, no ângulo da mandíbula;
- Posicionar os dois dedos polegares sobre o mento (queixo) da vítima; simultaneamente, fixar a cabeça da vítima com as mãos, elevar a mandíbula com os indicadores e médios, abrindo a boca com os polegares.
Esta manobra aplica-se a todas as vítimas, principalmente em vítimas de trauma, pois proporciona ao mesmo tempo liberação das vias aéreas, alinhamento da coluna cervical e imobilização.

Manobra de Tração do Queixo: (executada por apenas um socorrista atendendo isoladamente uma vítima de trauma).
- Apoie com uma das mãos a testa da vítima, evitando que a cabeça se mova;
- Segurar o queixo da vítima com o polegar e o indicador da outra mão e tracioná-lo para cima e em seguida efetuar a abertura da boca.
- Assim que possível, obtenha auxílio de outro socorrista para auxiliar na manutenção da abertura das vias aéreas e na estabilização da coluna cervical.
Manobra de Extensão da Cervical (executada em vítimas de trauma em que não há suspeita de lesão raquimedular e em casos clínicos)
- Posicionar uma das mãos sobre a testa e a outra com os dedos indicador e médio tocando o mento da vítima;
- Manter o apoio com a mão sobre a testa, elevar o mento da vítima;
- Simultaneamente, efetuar uma leve extensão do pescoço;
- Fazer todo o movimento de modo a manter a boca da vítima aberta.
Este procedimento aplica-se apenas às vitimas que não possuam indícios de ter sofrido trauma de coluna vertebral, especialmente, lesão cervical. 

B (breathing)
Constatar a existência, o tipo e qualidade da respiração, desobstruir as vias aéreas quando necessário, ministrar oxigênio e executar monitoramento com oxímetro de pulso.

Constatação da respiração por meio da técnica de “Ver, Ouvir e Sentir”, conforme técnica abaixo:
- Liberar as VAS da vítima através da manobra indicada;
- Aproximar o ouvido da boca e nariz da vítima, voltando a face para seu tórax;
- Observar os movimentos do tórax;
- Ouvir os ruídos próprios da respiração; sentir a saída de ar das VAS da vítima.
Verificação do tipo da Respiração
Observar o tipo da respiração durante os processos de aspiração e expiração para classificá-la como:

Regular ou Irregular - por meio da observação dos movimentos respiratórios do tórax e abdômen como um todo;
Simétrica ou Assimétrica - por meio da comparação dos movimentos respiratórios do lado direito em relação ao lado esquerdo do tórax e abdômen;
Ruídos anormais (rouquidão, chiado, tosse e gorgolejo) - durante a constatação da respiração executando a técnica do “ver ouvir e sentir”.

Possíveis Problemas Identificados por meio da Observação da Respiração
- Rápida e superficial: choque, problemas cardíacos, calor, descompensação diabética, falência cardíaca e pneumonia.
- Profunda, forçada e ofegante: obstrução de vias aéreas, falência cardíaca, ataque cardíaco, doença pulmonar, trauma de tórax e descompensação diabética.
- Superficial : trauma cerebral, torácico, colapso cardíaco e algumas drogas.
- Ruidosa: acidente vascular cerebral, fratura de crânio, abuso de álcool e drogas e obstrução parcial das vias aéreas superiores.
- Rouquidão: obstrução de vias aéreas e lesões das vias aéreas pelo calor.
- Gorgolejo: obstrução de vias aéreas, doença pulmonar e lesão pulmonar pelo calor.
- Chiado: asma, enfisema, obstrução de vias aéreas e falência cardíaca.
- Tosse sanguinolenta: ferimento no tórax, fratura de costela, perfuração do pulmão e traumas internos.

C (circulation)
Pulso é a onda de pressão gerada pelo batimento cardíaco e propagada ao longo das artérias. Deve-se sempre se verificar um pulso central sendo que em vítimas com idade acima de um ano deve-se palpar o pulso carotídeo e em bebês com idade abaixo de um ano deve-se palpar o pulso braquial.

Vítimas com idade acima de um ano 
Utilizar os dedos indicador e médio posicionando suas polpas digitais na proeminência laríngea. Em seguida deslizar lateralmente os dedos, na direção do socorrista, até o sulco entre a cartilagem e a musculatura do pescoço, aliviando em seguida a pressão dos dedos até sentir o pulsar da artéria carótida.
Vítimas com idade abaixo de um ano
Utilizar os dedos indicador e médio posicionando suas polpas digitais no terço medial do úmero do bebê e exercendo uma leve pressão até sentir o pulsar. Devido ao fato dios bebês não terem sua musculatura rígida é fácil encontrar a artéria braquial uma vez que por este mesmo motivo a carótida é muito profunda e próxima a glote. Devendo ser evitada para se evitar edemas.
Avaliar e Classificar a Regularidade do Intervalo entre os Batimentos Cardíacos em:
Regular - intervalos entre os batimentos iguais;
Irregular - intervalos entre os batimentos diferentes.

Avaliar e classificar a intensidade do pulsar da artéria em:
Fraco - dificuldade em sentir os batimentos cardíacos;
Forte - batimentos facilmente palpáveis.

Avaliar e classificar a frequência qualitativa em:
Lento - abaixo de um pulso por segundo;
Normal - entre um e dois pulsos por segundo;
Rápido - acima de dois pulsos por segundo. 

Principais Anormalidades de Pulso
Pulso rápido e forte - hemorragia interna (estágios iniciais), hipertensão arterial, susto, medo, calor e excesso de exercícios ou esforço físico;
Pulso rápido e fraco - choque, hemorragia, descompensação diabética, desidratação e falência circulatória;
Ausência de pulso - parada cardíaca ou lesão arterial;
Lento e forte - acidente vascular cerebral (derrame), traumatismo craniano e concussão.

Principais Anormalidades de Temperatura e Umidade da Pele
Pele fria e úmida - é indicativa de uma resposta do sistema nervoso simpático a um traumatismo ou perda sanguínea (estado de choque).
Pele fria e seca - exposição ao frio.
Pele quente e seca - pode ser causada por febre, em uma doença, ou ser o resultado de uma exposição excessiva ao calor, como na insolação.
Pele quente e úmida - hipertermia (febre), intermação.

Verificação da Coloração da Pele
A cor da pele depende primariamente da presença de sangue circulante nos vasos sanguíneos subcutâneos. Uma pele pálida, branca, indica circulação insuficiente e é vista nas vítimas em choque ou com infarto do miocárdio. Uma cor azulada (cianose) é observada na insuficiência cardíaca, na obstrução de vias aéreas, e também em alguns casos de envenenamento. Poderá haver uma cor vermelha em certos estágios do envenenamento por monóxido de carbono (CO) e na insolação. Alterações na coloração da pele podem indicar patologias (doenças) ou alterações vasculares periféricas decorrentes de traumatismos. Em pessoas de raça negra, a cianose da pele deve ser verificada na mucosa nasal e na parte interna dos lábios.

Principais Anormalidades na Coloração da Pele
Pálida - Choque hemodinâmico, ataque cardíaco, hemorragia.
Cianose (arroxeada) - Deficiência respiratória, arritmia cardíaca, hipóxia, doenças pulmonares, envenenamentos.
Icterícia (amarelada) - Doença hepática (fígado).
Hiperemia (avermelhada) - Hipertensão, insolação, alergias, diabetes, choque anafilático

Identificar e conter grandes hemorragias, tais procedimentos são de suma importância para estabilização da vítima.

D (disability)

Avaliação das Pupilas
As pupilas quando normais são do mesmo diâmetro e possuem contornos regulares. Quando atentamente examinadas podem indicar um estado de relaxamento ou inconsciência, como ocorre rapidamente após uma parada cardíaca e também de excitação, como ocorre quando se usa drogas como a cocaína, portanto, tendem a se contrair quando o cérebro encontra-se em grande atividade e tendem a se relaxar, consequentemente se dilatando, com a baixa atividade cerebral. Tendem também se contrair na presença de luz e se dilatar na sua ausência.

As pupilas desiguais são geralmente encontradas nas vítimas com lesões de crânio ou acidente vascular cerebral sendo contraída do mesmo lado da lesão, em um primeiro momento, quando a parte afetada do cérebro está tentando se recuperar e, em um segundo momento, passa a se dilatar devido a falência consequente das lesões e falta de irrigação sanguínea causada pelo inchaço.

Na morte, as pupilas estão totalmente dilatadas e não respondem à luz.

Classificação das Pupilas
Quanto a reatividade a luz.
Reativas - contraem-se na presença de luz.
Não reativas - indiferentes à luminosidade.

Quanto a simetria.
Isocóricas - apresentam igual tamanho.
Anisicóricas - apresentam tamanhos desiguais.

Quanto ao tamanho.
Midriáticas - apresentam midríase ou, ainda, encontram-se dilatadas.
Mióticas - apresentam miose ou, ainda, encontram-se contraídas.

Principais Alterações Pupilares
Mióticas - uso de drogas alucinógenas ou que causem grande excitação.
Anisicóricas - lesão cerebral localizada como traumas cranianos recentes e acidente vascular cerebral.
Mióticas e Arreativas - lesão no sistema nervoso central e medicamentos.
Midriática e Arreativas (midríase paralítica) - inconsciência, choque, parada cardíaca, medicamentos. traumas cranianos após um certo tempo.
Reflexos lentos e olhos sem brilho - exposição ao calor, choque e coma.

Provocar o Estímulo Doloroso, na seguinte ordem
1ª opção: fechar sua mão e pressionar o esterno da vítima com a face dorsal da mão, na altura da articulação entre a falange proximal e intermediária;

2ª opção: pressionar discretamente a musculatura do trapézio, ao lado do pescoço;

Jamais beliscar, dar tapas, espetar com agulhas ou praticar qualquer forma de agressão à vítima para se obter um estímulo doloroso. 

E (exposition)

Expor a vítima
Nesta etapa devemos expor a vítima sempre quando indispensável para identificar sinais de lesões ou de emergências clínicas. Para tanto é necessário informar antecipadamente à vítima e/ou responsável sobre o procedimento que será efetuado evitando o tempo demasiado de exposição, prevenindo a hipotermia com manta aluminizada ou cobertor ou lençóis limpos, garantindo a privacidade da vítima, evitando expor desnecessariamente as partes íntimas de seu corpo sendo que quando for necessário cortar vestes da vítima, utilizar tesoura de ponta romba, evitando meios de fortuna que possam contaminar ou agravar ferimentos.

Também é necessário respeitar as objeções da vítima, por motivos pessoais, incluindo religiosos, desde que isso não implique em prejuízo para o atendimento com consequente risco de vida. Lembre-se de relacionar os pertences do acidentado, mesmo danificados, e entregá-los no hospital, à pessoa responsável pela vítima devidamente identificada ou à Chefia de Enfermagem, no hospital. 

ANÁLISE SECUNDÁRIA
Processo ordenado que visa descobrir lesões ou problemas clínicos que, se não tratados, poderão ameaçar a vida, por meio da interpretação dos achados na verificação dos sinais vitais, exame físico e na entrevista. Através da avaliação dos sinais e sintomas apresentados pela vítima, o socorrista poderá determinar o tipo de emergência e os procedimentos operacionais específicos. Uma parte da análise é objetiva, por intermédio do exame dos sinais vitais e do corpo da vítima (exame físico) e a outra é subjetiva, através de dados colhidos em entrevista. 

Toda lesão ou doença tem formas peculiares de se manifestar e isso pode ajudá-lo no descobrimento do tipo de problema que afeta a vítima. Estes indícios são divididos em dois grupos: os sinais e os sintomas. Alguns são bastante óbvios, mas outros indícios importantes podem passar despercebidos, a menos que você examine a vítima cuidadosamente, da cabeça aos pés.

Sinais
São detalhes que você poderá descobrir fazendo o uso dos sentidos da visão, tato, audição e olfato durante a avaliação da vítima. Sinais comuns de lesão incluem sangramento, inchaço (edema), aumento de sensibilidade ou deformação; já os sinais mais comuns de doenças são pele pálida ou avermelhada, suor, temperatura elevada e pulso rápido.

Sintomas
São sensações que a vítima experimenta e é capaz de descrever. Pode ser necessário que o socorrista faça perguntas para definir a presença ou ausência de sintomas. Pergunte à vítima consciente se sente dor e exatamente onde. Examine a região indicada procurando descobrir possíveis lesões por trauma, mas lembre-se que a dor intensa numa região pode mascarar outra enfermidade mais séria, embora menos dolorosa. Além da dor, os outros sinais que podem ajudá-lo no diagnóstico incluem náuseas, vertigem, calor, frio, fraqueza e sensação de mal-estar.


FONTE DE REFERÊNCIA
MTBRESG - MANUAL DE RESGATE E EMERGÊNCIAS MÉDICAS

Direitos Autorais: Corpo de Bombeiros Militar do Estado de São Paulo.