A compreensão da evolução de um incêndio é um dos pilares fundamentais no estudo da dinâmica do fogo e na atuação técnica das equipes de...

A compreensão da evolução de um incêndio é um dos pilares fundamentais no estudo da dinâmica do fogo e na atuação técnica das equipes de combate. Um incêndio, embora possa parecer um fenômeno caótico à primeira vista, segue uma sequência de fases bem definidas, regidas por princípios físicos e químicos que determinam seu comportamento ao longo do tempo.
Desde sua ignição inicial até sua possível extinção completa, o incêndio passa por transformações progressivas que envolvem variações de temperatura, liberação de energia, formação de gases tóxicos e alterações estruturais no ambiente afetado. Essa evolução pode ser lenta e controlável, ou extremamente rápida e destrutiva, a depender de fatores como a carga de incêndio, a ventilação disponível, os materiais combustíveis presentes e as características do local sinistrado.
Estudar essas etapas como a fase de inicial, crescimento e extinção permite não apenas antecipar cenários críticos, como também aplicar táticas de combate mais eficazes e seguras. Nesta seção, serão apresentados os conceitos que descrevem as fases da evolução de um incêndio, seus comportamentos característicos e os riscos associados a cada estágio do desenvolvimento do fogo.
Fase Inicial
O Oxigênio contido no ar não está significativamente reduzido, e a grande parte do calor está sendo consumida no aquecimento dos combustíveis. A temperatura está pouco acima do normal nesta fase, pois, após a ignição inicial do fogo em um material qualquer e considerando que num ambiente coexistem diversos materiais combustíveis sob as mais diversas formas e com variadas dimensões, sempre haverá grandes variações na temperatura dos objetos em redor, enquanto houver alimentação de ar no local.
Os diferentes materiais existentes num ambiente incendiado, não raras vezes, precisam receber calores diferentes para desprenderem vapores combustíveis e se incendiarem, sendo que, para que ocorra a ignição, a soma do calor gerado pelo processo de combustão dos materiais e o da fonte externa deve ser maior do que as perdas de calor do ambiente. Então, se a fonte de calor for pequena, se o material exposto ao fogo tiver massa grande ou se a temperatura de ignição do material exposto for muito alta, dificilmente haverá a propagação do incêndio, isto é, o incêndio não irá evoluir.
Porém, se o material incendiar-se haverá a continuação da queima e a propagação do calor para o ambiente, por meio de algum ou todos os métodos de propagação, aumentando a temperatura progressivamente à medida que mais vapores combustíveis forem desprendidos dos materiais expostos ao calor, gerando fumaça e outros gases quentes que se acumularão na parte mais alta do local. Percebe-se desta forma que, o incêndio, na maioria das vezes, começa pequeno, em locais onde se encontram próximos os materiais combustíveis e a fonte de calor e pode se propagar para outros materiais na medida em que não haja a intervenção em qualquer dos elementos essenciais que o faz existir.
O tempo gasto para o incêndio alcançar o ponto de Inflamação generalizada é relativamente curto e depende, essencialmente, dos revestimentos e acabamentos utilizados no ambiente de origem, embora as circunstâncias em que o fogo comece a se desenvolver exerçam grande influência.
Fase de Aquecimento
É a fase da queima livre dos materiais existentes no ambiente, onde o Oxigênio é sugado para dentro do ambiente através das pequenas aberturas e os gases mais aquecidos preenchem a parte mais alta do ambiente.
Enquanto na fase inicial o material incendiado pode ser totalmente consumido sem que o calor gerado possa interferir na emissão de vapores combustíveis necessários para a eclosão de mais chamas, calor e a queima de outros materiais, estando presentes as condições propícias para a propagação do fogo (caminhos para a convecção ou radiação, em direção aos materiais próximos ao objeto em chamas), haverá um aumento de temperatura no recinto e a geração de mais fumaças e gases inflamáveis, simultaneamente. Com isto, a temperatura ambiente, beirando os 700 ºC, além de se acumular na parte mais alta do recinto, irá procurar aquecer os materiais combustíveis em redor elevando ainda mais a temperatura e comprometendo os elementos estruturais da edificação.
Nesta fase pode ocorrer o “flash over”, pois a evolução do incêndio e o incremento de oxigênio pelas janelas e portas, bem como a propagação do calor aos materiais por radiação e convecção, são condições mais do que favoráveis ao surgimento da inflamação generalizada, ou “flash over”, o qual se caracteriza por apresentar todo o ambiente envolto em chamas e pela emissão de calor e chamas pelas janelas e portas. Entre a fase inicial e a fase da queima livre transcorre um tempo bem curto, algo em torno de 3 a 5 minutos, dependendo dos materiais existentes no ambiente, dos elementos estruturais e dos dispositivos de revestimentos e acabamentos utilizados.
A chance de um pequeno foco de incêndio evoluir para um incêndio generalizado de média ou grande proporção depende dos seguintes fatores:
- Materiais combustíveis existentes no local (quantidade e volume);
- Forma de acondicionamento dos materiais do ambiente (proximidade de um em relação ao outro);
- Localização das janelas e área de aberturas existentes;
- Direção e velocidade do vento, se houver;
- O tamanho, a forma e a disposição do local;
- Dimensão da fonte de ignição.
- Materiais combustíveis existentes no local (quantidade e volume);
- Forma de acondicionamento dos materiais do ambiente (proximidade de um em relação ao outro);
- Localização das janelas e área de aberturas existentes;
- Direção e velocidade do vento, se houver;
- O tamanho, a forma e a disposição do local;
- Dimensão da fonte de ignição.
Nesta fase a propagação do incêndio de um para outro ambiente se faz de forma rápida, por meio de radiação e convecção, desde que haja condições favoráveis, tais como proximidades entre fachadas de prédios vizinhos, aberturas entre um pavimento e outro, etc.
Ainda nesta fase pode ocorrer que a queima seja lenta devido ao baixo nível de Oxigênio no local. Se isto ocorrer, haverá um aumento substancial da temperatura ambiente, a fumaça estará densa e rica em monóxido de carbono, o Oxigênio abaixo de 8% e o calor será intenso - CUIDADO - o ambiente encontra-se em iminente explosão (“Backdraft”). Tal fenômeno poderá ocorrer com mais facilidade em ambientes precários, porém construídos em alvenarias. A fumaça, que já na fase anterior à Inflamação generalizada, pode ter-se espalhado no interior da edificação, intensifica-se e se movimenta perigosamente no sentido ascendente, estabelecendo em instantes, as condições críticas para a sobrevivência na edificação.
Caso a proximidade entre as fachadas da edificação incendiada e as adjacentes possibilite a incidência de intensidades críticas de radiação, o incêndio poderá se propagar (por radiação) para outras habitações, configurando uma conflagração. A proximidade ainda maior entre habitações pode estabelecer uma situação ainda mais crítica para a ocorrência da conflagração na medida em que o incêndio se alastrar muito rapidamente por contato direto das chamas entre as fachadas.
No caso de habitações agrupadas em bloco, a propagação do incêndio entre unidades poderá se dar por condução de calor via paredes e forros, por destruição destas barreiras, ou ainda, através da convecção de gases quentes que venham a penetrar por aberturas existentes. Com o consumo do combustível existente no local ou decorrente da falta de oxigênio, o fogo pode diminuir de intensidade, entrando na fase de resfriamento e consequente extinção.
Fase de Extinção
Após o esgotamento dos materiais existentes no recinto, cessando o combustível, gradualmente a temperatura diminui de intensidade e o fogo se extingue.
Curva de Incêndio em função do tempo e temperatura
FONTE DE REFERÊNCIA
MANUAL DE COMBATE A INCÊNDIO EM HABITAÇÃO PRECÁRIA (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO)