Uma das principais funções do comandante da emergência envolve traduzir sua avaliação e previsão das circunstâncias na estratégia operac...
Uma das principais funções do comandante da emergência envolve traduzir sua avaliação e previsão das circunstâncias na estratégia operacional total. Esta decisão básica da estratégia serve à finalidade crítica de se determinar a operação será conduzida, basicamente, na modalidade ofensiva ou defensiva. O desenvolvimento e a gerência da estratégia total transformam-se na base para o salvamento e a ação de combate ao incêndio. Para o estabelecimento da estratégia total, coordenando a operação como um todo, o comandante da emergência deve avaliar a evolução inicial e colocar em prática seu plano de ataque de uma maneira racional e sistemática. Isso começa com o desenvolvimento de uma operação de modo bem organizado, ajustando-se em cada um dos estágios.
O estabelecimento da estratégia total, coordenando a operação por inteiro, fornece uma estrutura de padrão básico, auxiliando todos aqueles que estão no local de incêndio a compreenderem o plano global e quais devem ser suas posições e funções dentro desse plano. A aproximação ofensiva/defensiva básica determina o ponto exato por onde começar a compreender o planejamento e a essência do processo de controle do incêndio.
O controle do local de incêndio pelo comandante da emergência envolve simplesmente a habilidade de saber onde as guarnições podem ser encontradas e o que cada uma delas está fazendo. Num sentido muito prático, se o comandante da emergência puder inicialmente colocar suas guarnições, movimentá-las e modificar o que estão fazendo, terá um bom nível de controle da situação. Caso contrário, se não puder modificar as posições e as funções de suas guarnições, a operação estará fora de controle.
Identificando o Modo Estratégico
O comandante da emergência identifica o modo como ofensivo ou defensivo de acordo com a análise dos fatores do local do incêndio e de suas características relacionadas. Os fatores e as perguntas principais a serem consideradas para identificar o modo correto, incluem:
- extensão e posição do fogo: quanto e qual parte da edificação está envolvida?
- efeito do fogo: quais são as circunstâncias estruturais?
- existência de ocupantes ou vítimas: existem vítimas ou ocupantes a serem salvos?
- propriedade a ser salva/preservada: há alguma propriedade para salvar ou preservar?
- entrada e permanência: os bombeiros podem entrar na edificação e lá permanecerem?
- possibilidade de ventilação: a ventilação através do telhado/cobertura pode ser realizada?
- recursos: os recursos suficientes para o ataque estão disponíveis?
Quando o comandante da emergência decidir-se por qual modo estratégico os bombeiros devem atuar, todas as guarnições devem saber definir, identificar e compreender o modo ofensivo e defensivo. Esta é uma necessidade absoluta de todos os integrantes das guarnições saberem reagir corretamente e eficientemente de acordo com a decisão estratégica. O processo deve ser simples e não pode ser um mistério a partir do momento em que todos estejam imbuídos em fazer um trabalho eficaz e que não traga riscos aos bombeiros ou demais ocupantes da edificação.
Existe um teste fácil para verificação da compreensão. Cada bombeiro deve visualizar a operação e identificar qual a estratégia básica. Se os bombeiros não conseguirem identificar a estratégia, alguma coisa está errada. Ao determinar a estratégia (modo estratégico), o comandante da emergência estabelece também os objetivos a serem alcançados na operação de combate ao incêndio. Decide-se onde e quando os bombeiros devem efetivamente atacar o fogo, tentando extingui-lo, e qual o resultado final a ser alcançado.
O modo operacional deve ser facilmente identificável
por todos os bombeiros (combate a incêndio externo)
A propagação do incêndio não pode ser antecipada no tempo de chegada das primeiras viaturas, e empregar uma estratégia pode ser um sucesso ou insucesso. Por esta razão, muitos Corpos de Bombeiros desenvolvem 3 (três) ou 4 (quatro) modos de estratégia, permitindo que as primeiras viaturas na ocorrência usem o modo que melhor se adapte à situação encontrada. Os três modos mais comuns de estratégia são os modos de investigação, ataque e defesa. Estes não são os únicos modos possíveis, nem são todos os três sempre necessários. Alguns Corpos de Bombeiros operam efetivamente com somente dois e alguns têm mais de três.
Outro exemplo de combate a incêndio externo
Modo de Investigação
Modo de investigação é conhecido como "nada constatado", ou seja, ocasiões em que produtos de combustão ou chamas não são imediatamente visíveis para as guarnições que chegam primeiro, e o bombeiro deve investigar para determinar a causa do alarme e a existência ou não de incêndio.
Modo de Ataque
Modo de ataque existe quando a guarnição que chega primeiro decide fazer um ataque ofensivo ao incêndio. A guarnição em condição implementará o modo de ataque, que implica num agressivo ataque interior na tentativa rápida de controlar o incêndio. Outra guarnição que chegar deve, automaticamente, assumir uma linha de proteção àquela primeira guarnição ou alguma outra atividade de apoio.
Na operação ofensiva, as condições do fogo permitirão um ataque interior. Nesta situação, as linhas de mangueiras podem ser prolongadas até a área do fogo, possibilitando seu controle e extinção diretamente. Este modo é agressivo, de rápida atuação contra o fogo interno, procurando extingui-lo. Também nessa operação existe a preocupação com a procura de vítimas.
Modo de Defesa
Modo de defesa é aquele em que a propagação do incêndio é de tal modo que o comandante da emergência deve planejar para otimizar mais os recursos para conter o incêndio, evitando sua propagação para edificações vizinhas, ou seja, isolando-o, ao invés de extingui-lo propriamente. Na operação defensiva, as condições do fogo impedem um ataque interior, devendo-se garantir uma distância segura entre o fogo e as edificações vizinhas, para impedir a propagação do fogo.
Este modo é uma grande responsabilidade para quem está no comando da operação, cuja aproximação deve ser orientada e pode ser interrompida a qualquer momento. Pode incluir linhas de ataque exteriores, operando em torno de uma grande área incendiada ou inacessível, cujas chamas estejam em contato com o ambiente externo. Durante operações defensivas efetivas, o controle do perímetro torna-se crítico, tendo em vista que os bombeiros não devem entrar na área de fogo. Na eventual perda do controle do incêndio, o comandante da emergência deve decidir quando a interrupção do combate ocorrerá.
Na chegada das guarnições, em princípio, deve-se imaginar em termos de grande suprimento (vazões) de água e grandes pressões. Alguns Corpos de Bombeiros têm a previsão, no despacho de suas viaturas, de enviar uma primeira guarnição para verificação das condições do fogo, para confirmação da existência do incêndio. As demais guarnições serão, então, acionadas de acordo com os alarmes já pré-definidos no despacho.
O modo estratégico define o status em que, no caso de dúvida, guarnições de primeiro alarme e guarnições dos demais alarmes, que não estão na ocorrência, devem se deslocar para o local. A definição deve ser acompanhada por aquelas circunstâncias que geralmente justificam assumir um certo modo.
Modo Limite
A difícil e perigosa situação no local de incêndio ocorre quando as circunstâncias estão perto da extremidade da operação ofensiva e no começo da operação defensiva. O comandante da emergência pode iniciar um ataque ofensivo, tomando cuidado, reavaliando constantemente as circunstâncias e o efeito que o ataque está tendo no incêndio. Quando o comandante da emergência toma uma decisão estratégica, o faz sabendo que a qualquer momento pode haver mudanças. Deve, portanto, estender, gerenciar e controlar a operação inteira dentro do contexto da estratégia básica, estando sempre preparado para as mudanças que se façam necessárias.
Os modos ofensivo e defensivo são eventos independentes. As operações eficazes de combate a incêndio (de modo seguro e previsível) são conduzidas no interior ou na parte externa do edifício. Na transição entre as duas modalidades básicas, começa a surgir risco para a possibilidade de perda de vidas e de danos à propriedade.
As guarnições que lutam contra o fogo devem depender do comandante da emergência para controlar a estratégia, sabendo que estarão na modalidade ofensiva ou defensiva (ataque ou defesa) e não na mistura de ambas. Quando os bombeiros empregados no combate interno estiverem puxando suas linhas de ataque para fora da edificação, os bombeiros do ataque exterior (externo) podem operar a escada e bombas no mesmo espaço do interior, desde que os bombeiros que faziam o ataque interno estejam em local seguro, caracterizando que o combate interno terminou.
Os bombeiros do ataque interno sabem que, se os bombeiros do ataque externo atuarem sem que aqueles tenham terminado seu trabalho e estejam fora da edificação, em condições seguras, não haverá controle da situação por parte do comandante da emergência. A operação limite não significa que ambas as modalidades devem ser feitas simultaneamente.
O comandante da emergência executa uma função crítica, pois ele gerencia o processo estratégico. Ele inicia essa função logo no começo das operações, tomando a decisão inicial quanto a atacar defensiva ou ofensivamente. Ele deve continuamente controlar a função estratégica, mantendo o plano de ataque estabelecido no tocante às condições do processo interno e externo. Quando o incêndio se torna mais intenso, tomando uma área de grande extensão, o plano de ataque deve se deslocar do modo ofensivo ao defensivo, passando pela situação limite.
O índice ofensivo-defensivo fornece uma maneira padrão de avaliação das condições do fogo, e seu efeito indica qual o nível de eficiência do combate ao incêndio. Isto permite um ajuste eficaz em todo o plano de ataque. O sistema depende do comandante da emergência decidir se as guarnições devem operar dentro ou fora do edifício ou área. A responsabilidade é do comandante da emergência, que deve reavaliar continuamente sua decisão. Quando necessário, ele deve montar uma equipe de apoio para ajudá-lo nas decisões estratégicas, desenvolvendo um plano eficaz, criando uma organização adequada no local de incêndio.
Benefícios Operacionais
A efetiva gerência da estratégia pelo comandante da emergência resulta nos seguintes benefícios:
- estruturação e avaliação do modo de decisão tomada;
- padronização da compreensão e das comunicações;
- estabelecimento de segurança permanente no local de incêndio;
- bom nível de controle operacional; e
- melhoria na eficácia total.
Definição de Estratégia e Técnica de Combate a Incêndios
A estratégia, no plano teórico, conforme já visto anteriormente, consiste no estudo da estrutura organizacional do Corpo de Bombeiros, de acordo com os riscos existentes, num determinado local e quais os meios disponíveis, em termos de recursos humanos e materiais para o combate a incêndios, aliado ao desenvolvimento de POP’s, PPI’s e Diretriz de Despacho de Viaturas, de acordo com a natureza da ocorrência. No plano prático, consiste na tomada de decisão sobre o modo estratégico a ser desenvolvido no local do incêndio, que vai orientar a sequência de prioridades táticas e, consequentemente, as fases táticas. A técnica compreende a maneira como são usados acertadamente todos os meios disponíveis, como, por exemplo, o uso correto de um esguicho.
FONTE DE REFERÊNCIA
METCI – MANUAL DE ESTRATÉGIA E TÁTICA DE COMBATE A INCÊNDIO
Direitos Autorais: Corpo de Bombeiros Militar do Estado de São Paulo