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Traumatismos Penetrantes

Nos ferimentos penetrantes, ocorre a formação de uma cavidade permanente que resulta da trajetória do objeto perfurante ao atravessar os...

Nos ferimentos penetrantes, ocorre a formação de uma cavidade permanente que resulta da trajetória do objeto perfurante ao atravessar os tecidos do corpo. Esse tipo de lesão é caracterizado pela destruição dos tecidos no percurso do objeto, que pode variar desde uma simples perfuração até danos extensos e complexos, dependendo das características do objeto, como tamanho, forma, velocidade e energia transmitida. 

A passagem do objeto cria um trajeto de lesão que se mantém mesmo após a remoção do objeto, comprometendo estruturas anatômicas e podendo causar hemorragias significativas, danos aos órgãos internos e predisposição a infecções. A cavidade permanente, portanto, não apenas representa a destruição tecidual imediata, mas também reflete o potencial de complicações subsequentes, demandando intervenções médicas precisas e, muitas vezes, urgentes para mitigar os danos e restaurar a integridade funcional das áreas afetadas.

Por arma de fogo
Balística é a ciência que estuda o movimento de um projétil através do cano de uma arma de fogo, sua trajetória no ar e após atingir o alvo. O projétil é impulsionado através do cano de uma arma pela expansão dos gases produzidos pela queima do propulsor. Quando o projétil atinge o corpo humano sua energia cinética se transforma na força que afasta os tecidos de sua trajetória.

Balística do Ferimento
Devido à energia cinética (energia cinética = ½ da massa x velocidade2) produzida por um projétil e depende principalmente da velocidade, as armas são classificadas em alta e baixa velocidade. As armas com velocidades menores que 2000 pés/seg. são consideradas baixa velocidade e incluem essencialmente todas as armas de mão e alguns rifles. Lesões destas armas são muito menos destrutivo do que aquelas que disparam projéteis que excedem esta velocidade.

As armas de baixa velocidade são capazes de lesões letais dependendo da área do corpo que é atingida. Todas as lesões infligidas por armas de alta velocidade apresentam o fator lesivo adicional de pressão hidrostática.

Outros fatores que contribuem para o dano tecidual são:
a) Tamanho do projétil - quanto maior a bala, maior a resistência oferecida pelos tecidos e maior a lesão produzida pela sua penetração.
b) Deformidade do projétil - balas de “nariz macio” achatam-se na ocasião do impacto, comprometendo maior superfície.
c) Projétil com jaqueta - a jaqueta se expande e amplia a superfície do projétil.
d) Giro - o giro do projétil amplia seu poder de destruição.
e) Desvio - o projétil pode oscilar vertical e horizontalmente ao redor do seu eixo, ampliando seu poder de destruição.
f) Distância do tiro - quanto mais próximo o disparo, maior a lesão produzida.
g) Fragmentação do projétil - aumenta a área de dissipação da energia cinética, maior cavitação, maiores danos.
h) Densidade dos tecidos atingidos - o dano produzido é proporcional à densidade do tecido. Órgãos altamente densos, como ossos e tendões, sofrem mais danos do que os menos densos.

Devemos lembrar que, ao percorrer o corpo, a trajetória da bala nem sempre será retilínea, sofrendo desvios e atingindo órgãos insuspeitados.

Feridas por Arma de Fogo
Têm três componentes:

Orifício de Entrada - ao redor pode ter tatuagem da pólvora, área de queimadura e abrasão da pele. Como o projétil empurra os tecidos para dentro onde estes têm suporte trata-se de uma ferida oval.

Orifício de Saída - nem todos os orifícios de entrada têm um orifício de saída correspondente, algumas vezes pode haver múltiplos orifícios de saída devido à fragmentação óssea e do míssil. Geralmente o orifício de saída é maior e tem as bordas irregulares para fora. Como o projétil empurra os tecidos para fora, onde estes estão não têm suporte, trata-se de uma ferida estrelada.

O orifício de saída depende da energia cinética, deformação, inclinação e fragmentação do projétil. Se o projétil gastar toda sua energia cinética cavitando o tecido, o orifício de saída pode ter aparência inócua ou mesmo não existir.

Em outras situações com pouca degradação da energia cinética, mas com inclinação e deformação do projétil, o orifício de saída pode ser irregular e maior que o orifício de entrada. 

Lesão Interna - projéteis de baixa velocidade infligem dano principalmente aos tecidos que estão em contato direto com eles. Projéteis de alta velocidade infligem dano por contato com o tecido e transferência de energia cinética aos tecidos circundantes. 

O dano é causado por:

Ondas de Choque
Cavidade temporária, que é 30 a 40 vezes o diâmetro do projétil e cria pressões imensas nos tecidos. O grau da lesão produzida por uma arma de fogo é dependente da troca de energia cinética entre o projétil e os tecidos da vítima. Quanto maior a troca de energia cinética maior será a lesão.

Perfil frontal do projétil: altera significativamente a troca de energia com o alvo. 
É afetado por: forma do projétil, ângulo de penetração e fragmentação.

Alguns projéteis como os de ponta oca e ponta macia podem alargar seu perfil frontal após penetrar nos tecidos, o efeito prático deste fato é aumentar a dissipação da energia cinética e consequentemente a lesão tecidual.

Informações balísticas úteis
a) Calibre: diâmetro interno do cano e corresponde à munição utilizada para a arma em particular.
b) Raia: série de sulcos espirais na superfície interior do cano de algumas armas. As raias imprimem uma rotação que estabiliza o projétil.
c) Munição: cartucho, pólvora e projétil.
d) Construção do projétil: geralmente liga de chumbo sólido, podendo possuir uma jaqueta parcial ou completa de aço ou cobre. O nariz do projétil pode ser macio ou oco (para expansão ou fragmentação).
e) Fragmentação: os projéteis que se fragmentam após penetração ou após deixarem o cano da arma (espingardas, por exemplo) também aumentam a área frontal. Os múltiplos fragmentos atingem mais tecidos, aumentando a troca de energia.
f) Cavitação: a aceleração dos tecidos no sentido lateral e de deslocamento do projétil cria um orifício ou cavidade.

Nos projéteis de baixa velocidade o trajeto de destruição é apenas ligeiramente maior que o diâmetro, porém nos de alta velocidade o trajeto de destruição é muito maior. Durante alguns milissegundos é criada uma cavidade temporária várias vezes maior que o diâmetro do projétil (30 ou mais vezes).

A cavidade temporária tem pressão interna menor que a atmosférica e pode aspirar corpos estranhos (pedaços de roupa) através do orifício de entrada para o interior do ferimento. Órgãos, vasos sanguíneos e nervos podem ser lesados sem ter contato direto com o projétil.

O dano produzido é proporcional à densidade do tecido. Órgãos altamente densos como osso, músculo e fígado sustentam mais dano que órgãos menos densos como os pulmões. Quando um tecido denso como o osso é atingido, pode ocorrer fragmentação deste, gerando projéteis secundários. Em tecidos como o fígado, a cavitação é mais grave devido à força tensional baixa. Uma vez que a bala entra no corpo, sua trajetória pode não ser mais uma linha reta.

Indivíduo baleado utilizando colete à prova de balas deve ser tratado com cautela; devido a possível contusão cardíaca ou de outros órgãos. Qualquer paciente com uma penetração por um projétil na cabeça, no tórax ou abdome deve ser transportado imediatamente.

Em ferimentos abdominais por arma de fogo, o Socorrista deve sempre assumir a existência de lesão visceral, pois é muito raro que projéteis, mesmo os de baixa velocidade, não penetrem na cavidade.

Ferimentos por Espingarda
As espingardas foram feitas para atingir animais pequenos movendo-se velozmente. O interior de seu cano não possui raias. O projétil disparado se fragmenta em um número de esferas de chumbo que varia de algumas poucas a várias centenas. Ocorre dispersão progressiva dos projéteis com o aumento da distância.

A velocidade inicial na boca da arma é elevada 1200 pés/s, mas diminui rapidamente devido às características dos projéteis individuais, tornando esta arma ineficaz em produzir lesões graves a longas distâncias.

A distância do alvo é o principal determinante da gravidade da lesão.

Ferimentos por Arma Branca ou Projétil de baixa velocidade
Armas de baixa energia incluem armas guiadas pela mão, tal como facas, picadores de gelo, chaves de parafuso, garrafas quebradas e flechas.

A lesão produzida equivale geralmente ao trajeto do objeto, pois a energia cinética é pequena. Assim, o Socorrista tem melhores condições de prever a extensão das lesões internas. A severidade dos ferimentos por faca depende da área anatômica penetrada, comprimento da lâmina e do ângulo de penetração.

Caso a arma tenha sido removida, o Socorrista deve identificar o tipo de arma utilizada e o sexo do agressor quando possível - homens tendem a esfaquear com a lâmina no lado do polegar da mão e com empurrão para cima, enquanto mulheres tendem esfaquear para baixo e seguram a lâmina pelo lado do dedo mínimo.

O agressor pode esfaquear sua vítima e então mover a faca dentro do corpo. Uma simples entrada do ferimento pode ser pequena, mas os danos internos podem ser extensos. Isto não pode ser determinado no local, mas possibilidade deve sempre ser suspeitada, mesmo que aparentemente menores lesões.

O escopo potencial do movimento da lâmina inserida é uma área de possível dano.

Quando avaliamos uma vítima com um ferimento à faca, é importante procurar por mais que um ferimento. Múltiplos ferimentos à faca são possíveis e não deveriam ser desconsiderados até o paciente ser exposto e examinado com atenção. Esta inspeção com atenção pode ser feita no local ou a caminho do hospital, dependendo das circunstâncias em volta do incidente e condições da vítima.

Avaliação da vítima para lesões associadas é importante. Por exemplo, o diafragma pode estender na altura da linha das mamas durante expiração profunda. Um ferimento de facada no tórax inferior pode lesionar estruturas intratorácicas e intra-abdominais.

Conhecimento da vítima, da posição do agressor e da arma utilizada é essencial na determinação do caminho do ferimento. Uma facada na parte superior do abdome pode causar lesão de órgãos intratorácicos, e ferimentos abaixo do quarto espaço intercostal podem penetrar o abdome.

É fundamental, no atendimento pré-hospitalar as vítimas de ferimentos por arma branca, cuja lâmina ainda se encontre fincada no corpo, não remover o objeto e, sim, imobilizá-lo junto ao corpo e transportar rapidamente a vitima para o hospital. A lâmina pode estar promovendo compressão das extremidades vasculares, o que contém hemorragias, só devendo ser removida em ambiente hospitalar.


FONTE DE REFERÊNCIA
MTBRESG – MANUAL DE RESGATE E EMERGÊNCIAS MÉDICAS
Direitos Autorais: Corpo de Bombeiros Militar do Estado de São Paulo.