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História e Desenvolvimento do Mergulho

O espírito de aventura do ser humano sempre o levou a exercer atividades perigosas e inusitadas, em alguns casos devido a necessidade de...

História e Desenvolvimento do Mergulho
O espírito de aventura do ser humano sempre o levou a exercer atividades perigosas e inusitadas, em alguns casos devido a necessidade de sobrevivência e em outros por diversão ou superação de seus limites. O mar sempre foi considerado uma fronteira do planeta e desde os primórdios da humanidade desafiou o homem a conquistá-lo. A maior parte do ambiente aquático jamais foi vista pelo homem e há muito tempo fascina aventureiros e exploradores. A fascinação que o misterioso mundo submarino despertou e o desejo de explorar suas riquezas, potencializaram o interesse pela atividade subaquática e fez com que o homem passasse a mergulhar. 

Fica difícil determinar, com exatidão, o momento da história da humanidade em que o homem realizou suas primeiras experiências subaquáticas. Todavia, existem razões que nos fazem pensar sobre o motivo que justifique a tendência do homem, de forma instintiva, a procurar, uma vez ou outra, através dos séculos, a conquista do imenso mundo das águas marinhas. Talvez esta razão tenha uma justificada relação com as modernas opiniões sobre as origens da vida em nosso planeta, segundo as quais o homem é portador de uma herança recebida de anteriores e remotas formas de vida marinha, o que conduziria à inconsciente busca ou retorno ao ambiente do qual procede. 

O homem, em razão de seu parentesco direto com as diferentes formas de vida que povoaram os oceanos, durante milhões de anos, é portador de uma remota origem marinha, como se atesta pela semelhança que existe entre a composição química do sangue e da água do mar, onde os componentes majoritários (sódio, cálcio e potássio) encontram-se em quantidades muito similares. 

Este largo processo evolutivo que o homem atravessou acarretou uma clara consciência do que significa para si esse imenso mundo subaquático, que sempre admirou com respeito e com uma grande curiosidade, às vezes idealizando esse mundo desconhecido como moradia de divindades, monstros e mitos marinhos. Partiu, então, para a conquista dos limites entre seu ambiente terrestre e o mundo submarino. Nessa conquista foram verificados alguns dissabores que, apenas com a força de sua determinação, motiva o homem para superar todas as dificuldades, foram vencidos,  conduzindo ao merecido triunfo e fazendo com que a humanidade possa contemplar, aproveitar e usufruir com respeito e amor, o mundo silencioso, a imensidão azul das águas. 

Os Primórdios da Civilização 
No transcorrer dos tempos, chegamos em épocas relativamente recentes, se considerarmos os milhões de anos que o homem habita a face do planeta, algumas regiões que, por ser o berço de civilizações, contém uma maior fonte de informações: a Ásia Menor e o Egito. Escavações realizadas encontraram ornamentos de madrepérolas, com datas de 4500 a 1500 a.C.; também na Babilônia e Tebas se encontraram jóias com incrustações de pérolas procedentes de épocas similares, o que demonstra que o homem submergiu para a extração e coleta de ostras perolíferas. 

Outro dado muito significativo se refere à uma descoberta dentro das ruínas do palácio do rei persa Assurbanipal II, de um desenho em baixo relevo procedente do ano de 880 a.C., no qual se constata perfeitamente a figura de um guerreiro provido de um odre1, abaixo de seu peito, como se fosse um saco respirador, em posição de natação. Parece que representa o próprio rei cruzando um rio à frente de seu exército. 

Na cidade de Tiro (Fenícia), onde o comércio da púrpura era muito próspero, encontram-se abundantes restos deste molusco, cuja coleta só era possível com submersão ao mundo aquático. Uma informação mais completa da atividade subaquática do homem é em Creta, cuja época de máximo esplendor se remonta aos anos 3.000 a 1.400 a.C., anos em que aquela localidade era considerada a primeira potência marítima do mundo. 

Nas escavações realizadas encontraram se abundantes restos arqueológicos que permitiram reconstruir parte do interessante passado do povo, destacando-se as informações relativas às atividades do homem no fundo do mar. Também a mitologia da época nos dá um relato expressivo relacionado com o mergulho: a famosa história de Teseu, o herói ateniense que segue a Creta para matar o terrível Minotauro do palácio de Cnosos, e a que desafiou o legendário Rei Minos a recuperar um anel de ouro do fundo do mar, ação que Teseu  terminou com êxito, se mostrando um grande mergulhador. 

Mas se em Creta parece que se iniciou a atividade subaquática, é sem dúvida na Grécia o país onde esta atividade alcançou maior auge; dali chegam narrações realmente interessantes a respeito. A primeira delas se refere ao mito de Glauco, controvertido personagem que se apresenta como um simples pescador da Beócia e, outros lhe relacionam como tripulante da lendária nau Argo, em busca do manto de ouro. Em qualquer caso, sua história é curiosa. 

Um dia, quando regressava de sua atividade de pesca, colocou os peixes sobre umas ervas que cresciam na orla do mar e o contato com estas ervas os fez reviver. Diante deste acontecimento extraordinário, Glauco não pode evitar a tentação de verificar o porquê daquele fenômeno e, assim, colocou na boca um punhado daquelas ervas, observando que lhe causava enormes desejos de submergir e comprovando que podia permanecer debaixo da água quanto tempo desejasse. 

Dizem que a partir daquele momento, ganhou a confiança das divindades do mar, tendo o rei Posseidon lhe elevado à condição de divindade. Suas largas permanências abaixo d’água lhe deram um aspecto entre homem e peixe, com seus cabelos e barbas tomando uma cor verde, similar as das algas marinhas. Existem outros fatos em que a realidade se mistura com o mito, como no caso de Glauco, e que são bastante surpreendentes. Um deles teria acontecido no ano 484 a.C., durante a batalha do Cabo de Artemisa entre Gregos e Persas. 

Os protagonistas foram dois personagens, pois eram os excelentes mergulhadores da época: Escilias de Esción e sua filha Ciana: ambos submergiram protegidos pela escuridão da noite e debaixo de uma forte tormenta, conseguindo chegar sem serem avistados até onde estavam ancorados os barcos persas, cujas amarras cortaram, causando um verdadeiro desastre que valeu a vitória dos Gregos. A façanha foi de tamanha importância que, para imortalizá-la, foram erigidas estátuas de ouro em Delfos. Hoje conhecida como Vênus de Esquilo, não é nada mais nada menos que a bela mergulhadora Ciana. 

Outro testemunho do conhecimento que os gregos tinham da natação e do mar em geral era o fato de que, durante a batalha de Salamina contra os persas, estes últimos, que em sua maior parte desconheciam a natação, quando caiam ao mar, durante a luta, logo se afogavam, enquanto os gregos, muito mais espertos, retornavam à batalha com mais ímpeto, condição que valeu a vitória grega. Esta aptidão dos gregos para a luta no mar justifica o fato de que na Grécia se rendia um grande culto à natação, até o extremo de que chamavam de analfabetos aqueles que a desconheciam. 

Naquela época, se utilizava na Grécia, um aparato para submergir e permanecer debaixo d’água, que denominavam de “Lebeta”, que era um primitivo sino de mergulho. Aristóteles havia mencionado em seus escritos sobre a “Lebeta”, da seguinte forma: “Trata-se de uma espécie de sino cheio de ar, colocado em posição invertida, de forma cônica, em cujo interior, uma vez submergida, coloca-se a cabeça e a parte superior do corpo do mergulhador.” 

Nos relatos sobre a conquista de Tiro pelas tropas de Alexandre Magno, constam que os gregos levavam mergulhadores a bordo de suas embarcações, os quais lograram destruir as defesas submarinas dos fenícios. Outro historiador, Quinto Quercio (41 a 45 a.C.), diz também, sobre os mesmo fatos, que os fenícios cercados pelas tropas de Alexandre, o Grande, receberam ajuda de víveres e armas por meio de mergulhadores e que, graças a isto, conseguiram resistir ao ataque durante sete meses. 

Os mergulhadores gregos se distinguiam por umas incisões que se fazia no nariz e nas orelhas; sobre estes cortes, apesar das várias conjecturas sobre o motivo, nunca se chegou a encontram uma razão que as justificasse. Resta pensar, apenas, que representavam uma espécie de distintivo entre os demais homens do mar, para aqueles mergulhadores que na Grécia se rendia um tributo de admiração. 
                                                           Alexandre o Grande, vê o fundo do mar. 

Por mais estranho que possa parecer o comentário anterior, não é menos estranho o costume que tinham os homens de introduzir na boca e nos ouvidos pedaços de esponjas embebidas em azeite, cuja utilidade tampouco se conhece a razão correta. Utilizavam para melhorar a visão submarina. A técnica era a seguinte: uma vez submergidos mordiam o pedaço de esponja, fazendo sair gotas de azeita, os quais faziam deslizar até os olhos; uma vez ali, permaneciam por certo tempo na órbita ocular, reduzindo os erros de refração da água. Este procedimento, que pode parecer absurdo e ineficaz, não é tanto, visto que, quem realizou a prova logrou resultados bastante satisfatórios. 

Que não se pode averiguar  é a razão dos pedaços de esponja nos ouvidos, pois todos sabemos que tapar o conduto auditivo externo durante o mergulho é prejudicial, pois impede a normal adaptação da membrana timpânica às variações de pressões. Para esta interrogação só cabe uma resposta possível, uma vez que a suavidade da esponja se adapta à pressão exterior, liberando o azeite e, este, em contato com a membrana timpânica, faz a sua lubrificação, favorecendo sua elasticidade. 

Por certo que Aristóteles se ocupou, em sua parte científica, com os problemas que se apresentavam aos mergulhadores durante a imersão, tal como sangrar pelo nariz, a ruptura do tímpano ou a surdez, acidentes muito freqüentes nos mergulhadores de apnéia, principalmente nos coletores de esponjas e coral. Em uma de suas obras faz alusão a algo que tem relação com um tubo respirador, pois disse assim:“Os mergulhadores da época estavam dotados para permanecer longo tempo debaixo da água, respirando através de um tubo que os faz parecer com os elefantes”. 
                                                      Equipamento para respiração subaquática. 
                                      NOAA National Oceanic & Atmospheric Administration - EUA

Apesar de toda atividade e tradição subaquática dos gregos, foi no Império Romano que um povo, sem nenhuma tradição marinha, chegou a criar as primeiras unidades organizadas de mergulhadores de combate: os “urinatores”2. Estas unidades estavam formadas por jovens atletas que dominavam com perfeição a natação e o mergulho, e entre suas missões mais importantes destacavam-se: atacar as defesas dos portos inimigos, afundar os barcos fundeados e transferir seus estoques de armas, alimentos e mensagens às guarnições sitiadas. 

Estas unidades chegaram a alcançar um grau de operatividade tão alto que contra elas foram concebidos os engenhos mais diabólicos, desde a simples rede cheia de campainhas que denunciavam sua presença, até  máquinas infernais providas de rodas com afiadas machadinhas que funcionavam na entrada dos portos e arsenais e que mutilavam horrivelmente os aguerridos mergulhadores. Diz-se também que os guardiões daquelas instalações estavam providos com largos tridentes que espetavam os mergulhadores. 

Os “urinatores” tiveram sua primeira atuação nas guerras de César contra Pompeo, no porto de Orique, no Mar Adriático; segundo narra Don Casius, no ano de 49 a.C., estando sitiadas as tropas de César pela esquadra de Pompeo, seus mergulhadores nadaram submergidos durante a noite até os barcos inimigos; enganchando potentes garfos e cortando as amarras, os rebocaram sigilosamente até a terra, onde foram atacados e vencidos pela guarnição sitiada. A partir deste momento, suas ações se sucederam uma atrás da outra, até ao ano 200 de nossa era, quando constam as últimas informações de suas operações, as quais tiveram lugar durante o cerco de Bizancio pelo general Severo. 

Com a queda do Império Romano se perde, em parte, a continuidade das atividades subaquáticas, no campo militar, por parte dos famosos “urinatores” e, ainda quando seguem existindo ao tempo medieval, sua atividade perde a condição guerreira, até que se dedicaram a atividades de recuperação de barcos afundados, trabalhos em portos e arsenais, correio entre ilhas, etc., atividades que deram lugar à aparição dos primeiros mergulhadores profissionais da história. 

A respeito dos correios entre ilhas, o jesuíta Atanasio Kircher (1601/1680) falou em seus escritos da existência de certo personagem que se dedicava a passar mensagens de um lugar para outro no estreito de Mesina, um tal de Nicolao, que todo mundo conhecia como “O Peixe”; menciona façanhas incríveis, entre elas que percorria até quinze milhas marinhas (1800m cada uma) e que nesses percursos abordava as naus para facilitar a seus tripulantes informações daquelas costas marítimas e, em troca, lhe davam comida e bebida. 

Diz-se, também, que se dedicava a recuperar barcos e objetos afundados e que, uma vez foi solicitado pelo Rei da Sicília para que recuperasse uma taça de ouro que havia caído no mar, em um lugar de bastante profundidade e fortes correntes, operação que terminou com êxito. Joviano Pontanus disse que ele havia abandonado de tal forma os costumes dos homens que chegou a perder sua aparência humana, pois seu rosto era escamoso e horrível. Consta que o poeta alemão Friedrich Schiller se inspirou na vida deste personagem para compor a sua balada “O Mergulhador”. 

Na época medieval se perdeu todo interesse pelas coisas do mar, de onde as pessoas somente viam monstros horríveis em suas profundidades, e daquela antiga  pujança marinha e subaquática somente os romano-bizantinos mantiveram alguma atividade, ainda que sem apontar nada de novo. Também nas regiões de grande desenvolvimento desta atividade, como a Grécia e a Sicília, havia alguns mergulhadores que se dedicavam à coleta de esponjas e corais. Como visto, os mergulhadores gregos sempre tiveram fama em todo o mundo. 


FONTE DE REFERÊNCIA
MOM  – MANUAL DE OPERAÇÕES DE MERGULHO
Direitos Autorais: Corpo de Bombeiros Militar do Estado de São Paulo