A obstrução das vias aéreas causadas por corpo estranho (OVACE) é um evento raro. Trabalhos recentes mostram que nos Estados Unidos, o í...
A obstrução das vias aéreas causadas por corpo estranho (OVACE) é um evento raro. Trabalhos recentes mostram que nos Estados Unidos, o índice de óbito causado por OVACE é de 1,2 em 100.000 habitantes. Estes dados também são observados em outros países. Compare-se este índice com o de óbito causado por doenças coronarianas: 198 em 100.000.
Dados estatísticos atuais mostram que adultos inconscientes apresentam normalmente obstrução sem a presença de corpo estranho. A incidência de OVACE é muito menor em adultos quando comparados às crianças. A principal causa de obstrução em adultos inconscientes é o relaxamento da língua, que dificulta a passagem do ar na faringe.
É fundamental entender que as manobras de desobstrução podem salvar a vida por meio de procedimentos elementares. Por exemplo, as manobras manuais de tração do queixo liberam as vias aéreas ao deslocarem anteriormente a língua. Porém, em situações em que o engasgamento total não pode ser resolvido com a manobra de Heimlich, é altamente recomendável iniciar compressões torácicas contínuas.
Principais Causas de Obstrução das Vias Aéreas Superiores
- Obstrução causada pela língua: principal causa em vítimas inconscientes devido ao relaxamento da língua;
- Obstrução em glote: edema local por inalação de gases aquecidos, anafilaxia sistêmica, trauma causado por tentativas de intubação traqueal sem sucesso;
- Obstrução causada por hemorragia: epistaxe, ferimentos em cavidade oral, traumas cervical e de face, hemorragia digestiva alta;
- Obstrução causada por meio fluido: água, secreções, líquido de estase proveniente do estômago;
- Obstrução por corpos estranhos (OVACE): engasgamento por restos alimentares, corpos externos introduzidos pela boca e/ou nariz, próteses quebradas, etc.
- Obstrução por trauma: trauma cervical ou de face;
- Obstrução por enfermidades: doenças da tireóide, neoplasias (câncer), epiglotite aguda infecciosa na criança.
Vítimas com Obstrução Parcial
Observar se a vítima pode respirar, tossir, falar ou chorar.
Se caso positivo: em bebê, deixar que continuem chorando e em adultos e crianças, encorajá-los para continuar tossindo para ajudar a expelir o corpo estranho, deixando que encontrem uma posição de conforto ou mantendo-os em decúbito elevado (semi-sentado).
- Em caso de trauma mantê-la em decúbito dorsal horizontal;
- Ficar atento caso algum corpo estranho seja eliminado pela tosse;
- Ministrar oxigênio por máscara facial;
- Manter observação constante da vítima, incluindo sinais vitais;
- Transportá-la para o centro médico indicado pela central de operações.
Se caso negativo: tratá-la como portadora de obstrução total.
Vítimas com Obstrução Total (consciente e acima de 01 ano de idade)
Realizar repetidas compressões abdominais, até a desobstrução das vias aéreas ou a mesma se tornar inconsciente.
Técnica de Compressão Abdominal para Vítima Consciente (Manobra de Heimlich)
- Posicionar-se atrás da vítima;
- Posicionar sua mão fechada com a face do polegar encostada na parede abdominal, entre o apêndice xifóide e a cicatriz umbilical;
- Com a outra mão espalmada sobre a primeira, como se fosse movimento em forma de “J”, comprima o abdome de vítima num movimento rápido direcionado para si e para cima;
- Repetir a compressão até a desobstrução ou a vítima tornar-se inconsciente, quando então será executada a manobra correspondente.
Observar que nos casos de vítimas obesas ou gestantes no último trimestre, a compressão deverá ser realizada no esterno na mesma posição em que se realiza a compressão torácica da RCP.
Vítimas com Obstrução Total Inconsciente (acima de 01 ano de idade)
- Deitar a vítima (decúbito dorsal horizontal) em superfície rígida e plana;
- Fazer abertura da vias aéreas com a manobra mais adequada, abrindo sua boca;
Inspecionar a cavidade oral e se houver corpo estranho visível removê-lo com os dedos.
Verificar a Respiração
- Se a respiração estiver ausente, tentar efetuar duas ventilações sucessivas;
- Se não houver expansão torácica, efetuar nova manobra de abertura das vias aéreas (reposicionamento da mandíbula), e tentar efetuar mais 2 (duas) ventilações sucessivas;
- Se não houver sucesso nas ventilações, efetuar 5(cinco) compressões manuais abdominais subdiafragmáticas.
Inspecionar a cavidade oral e se houver corpo estranho visível removê-lo com os dedos.
Verificar se a vítima voltou a respirar espontaneamente:
- Caso positivo continue a análise;
- Caso negativo cheque o pulso carotídeo.
- Se positivo repita os procedimentos a partir da verificação da respiração, não sendo necessário o reposicionamento da mandíbula.
- Se negativo inicie reanimação cárdiopulmonar até a entrega da vítima ao serviço médico adequado, indicado pela central de operações, ou até que a mesma desengasgue e volte a ter pulso.
Vítimas com Obstrução Total Inconsciente (abaixo de 01 ano de idade)
- Deitar a vítima (decúbito dorsal horizontal) em superfície rígida e plana;
- Liberar suas vias aéreas com a manobra mais adequada, abrindo sua boca e procurando visualizar o corpo estranho;
- Tentar remover com seu dedo mínimo qualquer objeto, desde que esteja visível;
Verificar a Respiração
- Se a respiração estiver ausente, tentar efetuar 2 (duas) ventilações; e não havendo expansão torácica, efetuar nova manobra para liberar as vias aéreas e mais 2 (duas) ventilações;
- Verificar novamente a expansão torácica e, se não houver sucesso, efetuar manobra com tapas nas costas e compressão no esterno;
- Abrir a boca, visualizar e tentar remover qualquer objeto estranho visível;
- Checar a respiração e, se ausente, efetuar 2 (duas) ventilações;
- Após 1 (um) ciclo de manobras, checar o pulso braquial e, se ausente, iniciar a RCP;
- Após 1 (um) ciclo de manobras, checar o pulso braquial e, se presente, prosseguir nas manobras de tapas nas costas e compressão no esterno;
- No local, tentar uma única vez a sequência completa.
Manobras de Desobstrução de Vias Aéreas com Vítimas Inconscientes
Manobra de compressão abdominal subdiafragmática: Para vítimas de casos clínicos e com idade acima de 1 (um) ano.
- Posicionar a vítima em decúbito dorsal horizontal numa superfície plana e rígida;
- Posicionar-se de forma a apoiar os seus joelhos um de cada lado da vítima na altura de suas coxas;
- Colocar sua mão sobre o abdome da vítima, a fim de a apoiar a região tenar e hipotenar da mão entre o apêndice xifóide e a cicatriz umbilical;
- Apoiar a outra mão sobre a primeira;
- Comprimir o abdome num movimento rápido, direcionado para baixo e cranialmente;
- Efetuar 5 (cinco) compressões.
Manobra de Compressão Torácica
Para vítimas de trauma ou com parada cárdiorespiratória e com idade acima de 1 (um) ano.
- Posicionar a vítima em decúbito dorsal horizontal numa superfície rígida;
- Posicionar-se lateralmente à vítima na altura dos seus ombros;
- Apoiar suas mãos sobrepostas e com os dedos entrelaçados no local correspondente ao local para reanimação cardiopulmonar;
- Comprimir o tórax da vítima em movimento rápido e direcionado para baixo;
- Efetuar 5 (cinco) compressões.
Manobra de Tapas nas Costas e Compressão no Esterno (vítimas abaixo de 01 ano de idade)
- Posicionar a vítima de bruços em seu antebraço apoiado em sua coxa;
- A cabeça da vítima deverá estar em nível inferior ao próprio tórax;
- Segurando firmemente a cabeça da vítima pela mandíbula, apoiando o lábio inferior com o dedo indicador para manter a boca aberta;
- Efetuar 5 (cinco) pancadas, com a região tenar e hipotenar da palma de sua mão, entre as escápulas da vítima;
- Colocar o antebraço livre sobre as costas da vítima e virá-la para decúbito dorsal;
- Manter a cabeça da vítima em nível inferior ao próprio tórax, apoiando o braço sobre a coxa;
Observações Importantes
Tentar a sequência completa de manobras antes do transporte:
- Uma vez para vítimas abaixo de 8 anos;
- Duas vezes para vítimas acima de 8 anos.
As duas insuflações realizadas logo após a constatação de parada respiratória têm caráter estimulativo (por vezes a retomada da passagem de ar pelas vias aéreas é o suficiente para reativar a respiração como em vários casos de edema de glote ou afogamentos) e investigativo (verificar a permeabilidade das vias aéreas) sendo que principalmente a primeira delas deve ser realizada de maneira sutil, de modo a não pressionar o corpo estranho ali presente para parte mais interna das vias aéreas, dificultando sua desobstrução.
Em vítimas gestantes de último trimestre, obesas ou casos de trauma, não se deve executar compressões abdominais subdiafragmáticas e sim compressões torácicas esternais idênticas as utilizadas em reanimação cárdiopulmonar.
Em todas as manobras de desobstrução de vias aéreas, há risco de lesões internas de vísceras.
Se a obstrução não persistir e a vítima voltar a respirar, ministre imediatamente oxigênio por máscara facial com um fluxo de 10 l/min, mantendo-a aquecida e em posição de recuperação. Siga monitorando seus sinais vitais até a sua entrega ao serviço médico adequado, indicado pela central de operações.
Se a obstrução não persistir, porém a vítima não voltar a respirar, inicie imediatamente a ventilação artificial e monitore seu pulso carotídeo. Na falta deste, inicie imediatamente a reanimação cárdiopulmonar. Em todos esses casos, jamais deixe de informar a central de operações.
Se a vítima em questão for vítima de trauma, manter a imobilização manual da cabeça e coluna cervical, mantendo-a em posição neutra durante as tentativas de desobstrução das vias aéreas. Utilizar a manobra de elevação da mandíbula e manter a vítima em decúbito dorsal horizontal (DDH).
Caso o socorrista não obtenha êxito na desobstrução, transportar a vítima ao hospital rapidamente, sem interromper a manobra correspondente de desobstrução das vias aéreas.
FONTE DE REFERÊNCIA
MTBRESG – RESGATE E EMERGÊNCIAS MÉDICAS
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