O Renascimento trouxe entre outras coisas boas para a humanidade, o despertar do interesse pelas coisas do mar, culminando com uma das p...

O Renascimento trouxe entre outras coisas boas para a humanidade, o despertar do interesse pelas coisas do mar, culminando com uma das principais aventuras humanas, representadas pelas grandes conquistas marítimas. Foram ultrapassados os limites do tão temido “mar tenebroso” e os horizontes do homem europeu se ampliaram até níveis antes impensados. Com este impulso dado pelos homens da ciência da época e o interesse por estes temas e pela conquista das profundidades marítimas, nasceu a “Ars urinatoria”, como então foram chamados os artistas e cientistas, dos quais Leonardo da Vinci foi um representante.
Da Vinci, dentre outros inventos mais ou menos fantásticos, desenhou umas luvas palmeadas e uns pés de pato (nadadeiras), mas a sua mais original criação subaquática foi um capuz de couro que cobria a cabeça e o pescoço do mergulhador e colocou, na altura da boca, uma saída de um tubo respirador. Ademais, o capuz era coberto por agudos espinhos que, segundo Da Vinci, serviam para defender-se dos peixes. Curiosamente, a longitude do tubo não era superior a dos atuais; Leonardo, deve ter intuído ou, quiçá, comprovado, ainda que desconhecendo os princípios da hidrostática, que um tubo com tamanho maior não era utilizável, e não caiu nos exagerados desenhos de Vegetius.
Na mesma época o historiador militar Flavius Renatus Vegetius descreveu o equipamento dos “urinatores”, e inclusive o ilustra com gravuras mais ou menos pitorescas. E já se sabia que estes mergulhadores levavam como único equipamento um machado, braceletes de chumbo onde se gravavam as mensagens e um tubo respirador, que, segundo alguns acreditam, não deviam ter muitos a ver com a figura dos livros de Vegetius e que assim descrevia:
“Portavam capuzes de couro com um tubo na parte superior, que aflorava à superfície, e saco cheio de ar para sustentar sua flutuação, construídos com a pele do estômago dos cordeiros.”
Seu quase contemporâneo Diego Ufano introduziu algumas modificações nos desenhos de Vegetius, tais como colocar pesos nos pés do mergulhador e abrir orifícios no capuz na altura dos olhos, acoplando umas lentes de haste muito delgadas, fixadas com arandelas. Não cabe dúvida de que isto demonstrava o interesse daqueles povos em melhorar o equipamento dos mergulhadores. A vista do desenho de Vegetius se vê facilmente que um tubo respirador daquela longitude não era utilizável.
Alguns outros engenhos também surgiram, como demonstra o desenho de Pedro Ledesma, a respeito de um equipamento concebido no ano de 1623. Fora os tímidos projetos de Leonardo, Vegetius e Diego Ufano, não se tem notícias de que outros desenhos ou invenções. O sino de mergulho (“lebeta”) ainda era utilizado, com as limitações conhecidas, pois ainda não se havia obtido a renovação do ar em seu interior, nem conhecidas as causas de sua escassez, da qual os sábios da época diziam:
“resolvia- se em maus e fortes humores.”
Conscientes do mal que atacava implacavelmente os mergulhadores dos sinos trataram de resolver o problema suprindo ar desde a superfície por meio de um tubo, operação irrealizável sem poder dispor de um compressor de ar, por cuja razão o projeto teve que ser desenhado, pois escapava mais ar do que penetrava no interior. Esta situação se manteve até o ano de 1648, quando o famoso físico francês Blas Pascal deu lugar ao seu conhecido teorema, que seria o princípio fundamental da hidrostática. Descobrindo que unindo o realizado na mesma época pelo físico italiano Evangelista Torricelli, com o que se pode medir a pressão atmosférica, aclararam se grande parte dos muitos problemas que até então atormentavam os cientistas.
Com alguns conceitos científicos mais claros, mas ainda limitados quanto aos meios materiais que na época eram disponíveis para a construção de seus inventos apenas materiais como o ferro, a madeira e o couro, os físicos franceses, alemães e italianos trabalharam em excesso para desenhar aparatos mais ou menos fantásticos, alguns distanciados do clássico sino e, dentre outros, cabe destacar por sua originalidade para a época o do físico italiano Giovanni Alfonso Borelli, no ano de 1652. O invento consistia em um suposto equipamento de mergulho composto por um depósito de ar, em que o
mergulhador enfiava a cabeça. Era constituído de um saco de couro de grande tamanho,
que em sua parte dianteira levava acoplada uma vigia (abertura) para facilitar a visão.
O ar
que se aspirava pelo nariz era expulso pela boca através de um tubo de aproximadamente
oitenta centímetros de distância, havia um pequeno saco, por onde, segundo o autor, eram
retidos os vapores quentes; o corpo do mergulhador era protegido por um traje de couro,
curiosamente, o equipou com um par de nadadeiras que lembravam as garras de um felino
ligeiramente espalmado. O mais curioso neste equipamento era o cilindro que, a pretexto
de estabilizador hidrostático, levava preso na cintura; ao que parece, o ar comprimido
manualmente no cilindro deixava espaço livre em seu interior na água, o qual aumentava
seu peso; em sentido contrário, ao dilatar-se o ar expulsava a água e o cilindro flutuava.
Pelo menos na teoria, assim assegurava seu inventor, já que este aparato, ao que parece,
não passou de simples projeto, pois nem sequer foi provada sua eficiência, uma tanto
duvidosa.
Na obstante todos estes projetos, o sino de mergulho continuava sendo utilizado,
pois não havia sido obtido nada que o substituísse, pelo que, durante vários anos, os
cientistas se limitaram a aperfeiçoar a campana. Em 1665, o escocês Jean Barrí desenhou
um sino no qual introduziu um tamborete para o descanso em seu interior; na mesma
época, o veneziano Boniauto Lorini incorporou pela primeira vez uma janela que permitia
observar o exterior, que declarou:
“útil para a recuperação de canhões afundados ou de qualquer outro objeto que
tivera sido afundado e para a pesca de coral”.
Com efeito, o que daria uma nova concepção ao sino de mergulho, seria o astrônomo e cientista inglês Edward Halley (1656/1742), o qual, talvez um tanto cansado de tanto olhar o céu, dirigiu sua atenção para uma nova dimensão, que se apresentava como incipiente conquista dos fundos marinhos pelo homem. Baseando-se em modelos conhecidos, todos de reduzidas dimensões, desenhou um sino de grandes dimensões, com capacidade para quatro pessoas, adicionando um banco circular, no qual se podia permanecer sentado em seu interior.
Porém o mais engenhoso era a forma pelo qual se fornecia o ar, que chegava ao lado em barris e se transportava para o interior do sino por meio de tubos, dotando de uma grande autonomia. Sem dúvida, não terminou aqui a capacidade inventiva de Halley, pois quis facilitar aos mergulhadores uma autonomia independente do sino, adotando um mini sino de uso pessoal, recebendo ar deste o sino principal.
Representação do uso do Sino de Halley
A prova de água o sino de Halley foI construído no ano de 1690; alguns autores creditam a paternidade deste invento ao físico francês Denis Papin. O irlandês Sparling introduziu a novidade de que os tripulantes poderiam movimentar o sino à vontade, mas, quem realmente aperfeiçoou o sino com fundamentos modernos foi o engenheiro inglês John Smeaton (1724/1792), que idealizou um sistema de renovação do ar em seu interior, por meio de uma bomba pneumática. A incorporação deste método deu lugar à criação de novos desenhos de equipamentos de mergulho próximos do que mais tarde seria o clássico escafandro de mergulho.
Um dos primeiros equipamentos conhecidos foi idealizado pelo inglês John Lethebridge, que inventou em 1716 um aparato que consistia numa espécie de tonel construído de madeira reforçada com aros de ferro, no qual se introduzia o mergulhador até abaixo da cintura. Dispunha de orifícios revestidos de couro para os braços e o ar era fornecido através de tubos colocados na altura da boca. O ar expirado saía pela parte inferior do tonel. Na realidade, era uma adaptação do clássico sino de uso individual.
Traje de Lethebridge
NOAA National Oceanic & Atmospheric Administration EUA
Na época o conhecimento das técnicas da imersão tinha sido melhorado sensivelmente, e juntando-se com os demais certos avanços da ciência, proporcionou a criação de novos modelos. Os franceses Freinemem (1772) e Forfait (1783) também colaboraram de forma significativa para o aperfeiçoamento de equipamentos individuais de mergulho, mas foi o alemão Klingert que quatorze anos mais tarde, aproveitando todas as experiências anteriores, construiu um novo aparato, de concepção mais avançada, constituído por um casco unido à parte central, confeccionado em couro e protegido por arandelas de ferro.
Os braços saiam da estrutura de forma similar ao modelo de Letherbridge e na parte inferior levava uma espécie de calça, também de couro, até a panturrilha. Todo o conjunto se comunicava com um depósito de ar de forma cilíndrica ligado à parte central do corpo, o qual poderia servir como estabilizador e permitia ao mergulhador ascender ou descer a vontade. Para manter o equilíbrio hidrostático, era dotado de pesos de chumbo colocados na cintura, que serviam de lastro.
Modelo do traje de mergulho alemão “Klingert”
Historical Diving Society - EUA
A partir do ano de 1800, novos modelos de aparato de mergulho se sucederam. Franceses, ingleses e também alemães se dedicaram a obter equipamentos que permitissem o mergulho autônomo e liberassem definitivamente o homem do conceito do sino, abrindo-lhes definitivamente as portas do mundo submarino.
Em 1819, o engenheiro alemão August Siebe, idealizou um casco metálico de forma semi-esférica a que denominou de “escafandro”.
Representação do traje rígido modelo “August Siebe”, e Traje rígido e escafandros juntos
NOAA-National Oceanic & Atmospheric Administration EUA
Tal equipamento dispunha de uma vigia dianteira e sua parte inferior se apoiava sobre os ombros do mergulhador; o ar era bombeado da superfície e recebido através de uma válvula anti-retrocesso, inventada por ele, enquanto o ar expelido era liberado de forma natural, pela parte inferior. Com isso dotava o mergulhador de um aceitável equilíbrio de pressão e uma respiração bastante cômoda. Este equipamento tinha o inconveniente de obrigar o mergulhador a manter-se em posição ereta, pois qualquer inclinação do casco não permitia a saída do ar que correspondia à entrada de água em seu
interior, limitando a liberdade de movimentos.
FONTE DE REFERÊNCIA
MANUAL DE OPERAÇÕES DE MERGULHO (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO)